Hoje é o Dia Mundial do Livro e, claro que não podia deixar passar a data sem fazer essa referência. Este é comemorado desde 1996 e, pelo que sei, trata-se de uma data simbólica, pois é próxima da data de falecimento de duas grandes figuras da literatura, Miguel de Cervantes e William Shakespeare.
Queria deixar referência a um livro, um escritor, mas um que me dissesse algo. São vários, confesso, mas gostava que fosse português. Foi então que me lembrei de uma autora que gosto muito, pela qual eu tenho um carinho especial e que, sim, merece a minha admiração e referência neste dia: Rosa Lobato de Faria.
Faleceu à relativamente pouco tempo (2010), mas deixou obras, livros que, caso ainda não tenham lido, experimentem. A sua escrita é muito agradável, real, chamativa, clara, que nos faz entrar na história e parecer que fazemos parte dela. Escrevia sobre o amor, a família, comédia, sobre a vida. Mas, são os seus poemas que me apaixonam.
A Gaveta de Baixo, com ilustrações em aguarela é um livro lindíssimo. Mas o livro que quero fazer referência hoje, é um dos meus mais velhinhos livros. Velhos, não pelo tempo, mas pelo uso. De tanto andar para cá e para lá, de andar de mão em mão, ser lido e relido - Os Poemas Escolhidos e Dispersos.
E é um desses poemas que aqui deixo. Um dos meus favoritos, no meio de tantos favoritos, de tantos que me fazem sonhar e querer pertencer, ser, sentir, aquilo que é descrito:
Quem me quiser
Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantigas dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.
a cantigas dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.
Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
à saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.
a laranjeira em flor, a cor do feno,
à saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.
Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.
Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.
Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber a coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber a coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
Rosa Lobato de Faria
Nice :)
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